São Pedro tem um histórico de arrojo e, se Ele do Céu permite dizer, de fugas também. No dia que celebramos a festa da Cátedra do Primeiro Papa, seja-nos permitido, em primeiro lugar, fazer uma meditação pelas razões de ter São Pedro recebido a primazia; e em segundo; trazer o significado que tal comemoração representa para os Arautos do Evangelho desde 2001.
A primeira ousadia e fuga que fazemos notar está na passagem onde São Pedro, da barca, recebe de Jesus o convite de andar sobre as águas. Sem pensar duas vezes, ele se lança com fé, dando timidamente alguns passos antes de afundar.
Cristo o repreende, dizendo-lhe: “falta a ti fé”. Não bastava aderir às obras de Deus, colocar a mão no arado, e olhar para trás.
Numa segunda vez, encontramos São Pedro querendo fazer justiça com as próprias mãos, contra aqueles que ofendiam o Mestre. A passagem seguinte arrepia o leitor incauto: “Em verdade vos digo, o galo não cantará três vezes antes de você três vezes me trair”.
Outra vez o primeiro a caminhar, outra vez o primeiro a cair. Sua força já havia sido testada no horto das Oliveiras, e ele já havia ali fraquejado também. O sono se apoderara dele e de seus companheiros, deixando Cristo sofrer sua agonia sozinho.
Por último, mais uma vez onde ele se adiantou e fugiu, dessa vez muitos anos depois da ida de seu Senhor ao Céu. Caminhava Pedro pela Via Ápia, deixando a Roma de Nero, que começava sua perseguição radical pelos Cristãos. Cruzou ele, de repente, após muito caminhar, com Jesus, seu Mestre, novamente ensanguentado, entrando em Roma, diferente da direção do Santo Papa. “Quo vadis, Domine”? “Pra onde vais, Senhor?”, foi a pergunta do apóstolo.
Jesus, olhando profundamente para seu primeiro, seu representante na Terra, respondeu: “Vou à Roma, morrer por Pedro, que foge dela”. O santo pescador de almas ficou profundamente tocado e entendeu o significado da visão: chegara sua hora. Desta vez, São Pedro perfaz o caminho inverso: primeiro a fuga, depois a ousadia e confiança. A obra de Deus estava feita.
A celebração de hoje, Festa da Cátedra de Pedro, dia 22 de fevereiro, serve para lembrar aos cristãos do mundo todo a inteira e profunda soberania do Primeiro Papa. Ele é soberano não porque sua fé sempre foi firme, mas porque não desistiu da perfeição. Por ser devidamente humano, São Pedro foi o primeiro também porque foi nosso modelo.
Não houve queda que o desanimou. Tendo traído tal qual Judas, não vendendo a seu Mestre, mas o negando, não teve medo de ir de joelhos diante de Nossa Senhora pedir perdão pelas suas faltas.
São Pedro assim, detém a primazia porque é a prova de que é Deus quem capacita seus escolhidos. Amado desde toda eternidade, predestinado a um trono tão augusto, teve todas as oportunidades de não ser merecedor destes dons.
Assim, humilde por reconhecer-se fraco, por se ver como pecador, é lembrado por todos os fiéis do mundo como a Rocha onde está ancorada a Santa Igreja. Na cena da via Ápia, São Pedro alcançou, enfim, quando voltou, aquela constância que precisava na fé. E, como o maior dos heróis, apresentou-se devidamente a Nero, aquele crápula, tendo em sua mão a chave pontifícia e o Sólio do Pontificado.
De cabeça para baixo, o primeiro dos apóstolos entregou sua alma a seu Mestre, a seu Senhor, agora tendo certeza, como São Paulo, seu amigo e irmão na fé, de que não pecaria mais.
A Aprovação Pontifícia de 22 de fevereiro de 2001, em Roma ficará gravada para sempre nas almas dos mais de mil Arautos do Evangelho que se encontravam no Vaticano, pois nesta ocasião puderam ouvir dos próprios lábios do Papa São João Paulo II — que se expressou em língua portuguesa — estas palavras de estímulo: “Saúdo de modo especial o numeroso grupo da Associação Internacional de Fiéis de Direito Pontifício, Arautos do Evangelho, para que sendo fiéis à Igreja, ao seu Magistério, permaneçam unidos aos seus pastores e anunciem corajosamente, pelo mundo inteiro, a Cristo Nosso Senhor”.
Das mãos de Pedro – sim, pois o Santo Padre João Paulo II foi diretamente seu representante – os Arautos do Evangelho receberam as chaves pontifícias. É desde 2001 que elas estão nos seus brasões, ostentadas com honra e amor. Este convite na Festa da Cátedra sempre rutilara nos corações dos Arautos: “buscai sempre a perfeição. Eu, Pedro, a persegui mesmo quando tudo parecia perdido. E, a exemplo do meu mestre, a encontrei na cruz. Esta mesma cruz que carregais em seu hábito, ela será a morada de vossa perfeição”.
Que o dia de hoje possa sempre ser celebrado com a alegria dos filhos de Deus. E que Nossa Senhora possa levar a obra dos Arautos do Evangelho – como conduziu São Pedro – quando esta passar pela via Ápia, enfrentar a perseguição, desembocar na crucificação, e receber o dom da ressurreição, a modelo de Cristo.