O católico pode festejar o Halloween?

Costumeiramente ouvimos, na formação dos jovens, os termos “certo” e “errado”, “bom” e “mau”.

Estes são usados para apontar lacunas ou exemplos de caráter que, na idade juvenil até o presente, está sendo moldado tanto pela ação dos pais quanto pelo ambiente social em que está inserido.

O que a formação dos jovens, contudo, tem a ver com uma celebração dos fins de outubro, o Halloween? Pouco, para os desavisados, e muito para os perspicazes: é o que vamos desembaralhar neste artigo.

Causa e ocasião

Na Filosofia clássica, ainda nos tempos em que os homens costumavam caminhar pensando e pensar caminhando, temos um vislumbre do raciocínio de Aristóteles sobre a causalidade. Para ele, causa é aquilo que participa ativamente do efeito, que o gera.

Um exemplo fácil: no supermercado, ao empurrarmos um carrinho de compras, ele se move devido ao nosso impulso.

Somos a causa do movimento dele, e sem alguém que o empurre, ele fica parado. É diretamente nosso esforço que causa sua locomoção.

Entretanto, nem só de causas vive o ser humano! Para o Filósofo, outro fator pode gerar uma consequência: a ocasião. Esta não determina uma ação, mas a influência.

Usando o mesmo exemplo do supermercado, o fato de o carrinho possuir rodas bem diagramadas permite que o movimento dele seja melhor, seja mais fluído.

Mas de nenhum modo o carrinho se move pelas suas rodas; se não houver nosso impulso, mesmo as rodinhas mais acertadas não o moverão.

Ideias e fatos

Aplicando o exemplo acima das causalidades na comunidade humana, percebemos que as ideias são as causas dos fatos.

É por isso que existem tantas escolas, seja de pensamento ou de arte: são ideias compartilhadas que levam a costumes, a ações.

Infelizmente, também ideias podem levar a maus fatos, como guerras injustas, escassez e fomes. E quando essas más ideias são enquadradas em um sistema, todo ele padece das consequências.

Assim, a ideia está para a causa como o fato está para o efeito.

Ora, é aqui que aparecem os primeiros conceitos, portanto, de certo e errado, bom e mau.

Quando uma ideia pode estar errada? Por dois motivos: ou uma de suas premissas é falha, ou o modo de raciocinar está equivocado.

Vejamos um exemplo que ilustra estes conceitos: se eu começar a elaborar um pensamento achando que eu sou um peixe, qualquer das conclusões possíveis não será verdadeira.

Pois homem é homem, peixe é peixe; e misturar as duas naturezas destes seres distintos irá afetar meu raciocínio.

Como também estarei errado se minha conclusão nada tiver a ver com minhas premissas: “Pedro é homem. Miguel é imortal. Logo, Pedro é mortal”. Como se vê, nada faz sentido para que eu chegue a uma conclusão desta.

E quando uma ideia errada passa a se tornar má? Quando a intenção está corrompida.

Se faço um raciocínio falso por ignorância, não sou mau, apenas preciso aprender mais.

Porém, se torno a fazer este mesmo pensamento errado, agora por egoísmo, por não querer mudar, aí, sim, estou eticamente optando pelo mal.

Solução para todos os problemas

Então, se o problema está na formulação das ideias, quais serão as causas dos fatos, qual a única solução?

Educação, é claro. Pois assim que as premissas estiverem certas e o modo de raciocinar estiver correto, só ocorrerão boas conclusões, e disso virão ótimos fatos.

E assim construiremos o progresso na História da humanidade, e, como exemplos, temos épocas que investiram bem na educação e foram prósperas, e outras que não quiseram se dar a este luxo e se tornaram miseráveis.

Tal pensamento esquece, porém, de que não só de causas vive a humanidade, mas também de ocasiões.

E aqui entra uma teoria explicada por Dr. Plinio, mestre do fundador dos Arautos do Evangelho, que aborda o porquê da desordem na sociedade atual.

Também, com isso, poderemos passar para a análise da festa do Halloween.

Tendências e ocasiões

Se as ideias geram fatos e são sua causa direta, o que seria uma tendência?

Para Dr. Plinio, elas seriam as ocasiões que levam à formação de ideias.

Assim, antes mesmo de uma ideia ser gerada pela nossa mente, somos constantemente alvos de tendências que a ocasionam, influenciam nosso modo de pensar.

Um exemplo prático: em um dia de calor excessivo, numa rua onde não há árvores, ou sombras frescas, com o asfalto quente por debaixo de nós, ao passarmos por uma sorveteria, o primeiro pensamento que nos vem à mente é: “Como um sorvete cairia bem nesse calor!”

Parece óbvio, e é, pois a realidade é toda ela concatenada, como elos em uma corrente; mas isto não impede que este potencial de tendências seja muito bem desenvolvido.

Querem ver?

Experimentem passar, num dia de mesmo clima, numa rua com muitas sorveterias.

A nossa escolha será muito afetada pelas tendências que recebermos: as cores, as formas, a decoração do interior, tudo isso nos coloca num estado de reflexão sem nos darmos conta, pois automaticamente contabilizamos pesos e medidas.

Sendo assim, mudamos um pouco de nossa concepção anterior: para um bom surgir de ideias, são necessárias boas tendências.

Mas como uma tendência pode ser boa? Se ela antecede o pensamento, poderíamos classificá-la eticamente?

O belo e o feio

E aqui chegamos ao ponto da formação humana que anunciamos no título: uma tendência pode ser bela ou feia.

Este representar da tendência será ocasião para a ideia, que, dependendo da carga de beleza, vai pender mais para o bem ou para o mal, causando os fatos.

Portanto, a educação só tem sentido na comunidade humana quando vem aliada a tendências belas, do contrário, não importa o nível de conhecimento ministrado: sempre ficará escancarada uma porta para o mal.

Halloween e a comemoração do feio

Aqui não temos a intenção de sondar a origem da festa de Halloween, e se algum dia tal celebração teve este ou aquele sentido.

Alguns dizem ser a pré-celebração do dia de Todos os Santos, catolicizado pela Santa Igreja Católica das festas celtas; outros, que se originou diretamente do culto ao demônio para fazer frente à celebração cristã do dia 1° de novembro.

Isso não nos importa agora, mas sim, a festa celebrada atualmente.

Para o Halloween, o costume é tornar-se horrendo. Seja em honra a filmes e séries de terror, ou para ilustrar a comemoração das bruxas que, segundo nos são representadas, eram todas mal formadas e cheias de adereços selvagens.

Na prática, o objetivo é atingir um grau de não-naturalidade imenso: são as cores escuras, as deformações por maquiagens e os objetos suspeitos.

Portanto, o Halloween celebra o feio, o antinatural, o penado (padecente).

Num dia normal, em qualquer outra semana do ano, aparecer com um corte no rosto que o atravessa de alto a baixo é terrível, e com certeza muitos terão pena e lástima do sujeito. Mas no Halloween é o contrário: quanto maior o corte, maior a admiração e a parabenização.

No campo das ideias, não há nenhuma ideia que seja condenável.

Mas, e nas tendências?

E para todos os jovens que percebem que a extrapolação do natural é parabenizada, como se fosse um segredo rebelde que não se conta na sociedade?

Ou, para o pequenino que sonhava com príncipes e fadas, e ao ver o esqueleto percebe que não há repulsa ou afastamento?

A formação dos jovens, como foi dito acima, passa sobretudo pelas tendências.

E quando o mal tende a ser celebrado, quando o feio passa a ser o ponto de honraria, algo se bagunça na alma da juventude: é permitido, então, o vil? O ruim, o péssimo, pode ser uma opção?

É claro que celebrar ou festejar o Halloween não faz da pessoa um ser ruim, pecador, fadado ao inferno; mas sim que, tendo permitido à sociedade que esta festa fosse normalizada, mostra o quão enfermas estão as tendências para o feio na comunidade humana.

Que sejamos cristãos de corpo, alma e mente, e saibamos incrementar em nosso lar, em nossos círculos sociais, tendências para o belo e não para o feio, pois só assim haverá maiores margens para boas ideias e, assim, para o bem em geral.

É o que devemos pedir a Nossa Senhora e aos Anjos todos do Céu nesse fim de outubro.