Infelizmente, em nosso mundo caótico, perdemos a direção da moral, pois negligenciamos a ação de apontar limites e determinar as medidas necessárias para bem viver. No entanto, plena de ótimos conceitos e definições, a doutrina Católica se torna nosso guia rumo ao Céu.
Tomando por base o Catecismo, trazemos uma dúvida que pode incomodar a muitos fiéis: qual a diferença entre o dom e a virtude da fortaleza?
Para relembrar o Catecismo
Ao lado da justiça, da temperança e da prudência, a fortaleza faz parte do grupo das virtudes cardeais, assim chamadas por serem essenciais à vida cristã na comunidade humana.
Junto com as virtudes teologais – fé, esperança e caridade – este sublime conjunto de sete virtudes representa nossa responsabilidade para com Deus e, depois, para com sua criação, dos Anjos à natureza, animada e inanimada.
Já os dons são a luz especial concedida pelo Espírito Santo, e que representa um passo a mais na nossa vida de oração.
Enquanto as virtudes, que vêm do latim virtus, que quer dizer força, exigem de nós uma posição mais ativa para conquistá-las, ou seja, uma prática atenta e constante, o dom é muito mais um movimento do próprio Deus, que os infunde em nós.
No Batismo, recebemos os sete dons do Espírito Santo: sabedoria, conselho, ciência, inteligência, fortaleza, piedade e temor de Deus. Mas eles permanecem como que “desativados”, ainda não há uma “voltagem” da graça divina para que eles estejam “acesos”. Nós recebemos esse favor da graça no Sacramento da Crisma, que confirma esses dons em nós e os acende.
Conforme praticamos as virtudes e procuramos a santidade, os dons têm mais correspondência, o que aumenta a sua luz. Caso caíamos em pecado e sejamos infiéis, os dons vão se apagando, até que os perdemos por completo.
Para que isso não aconteça, é preciso oração constante e uma vida de amor e procura do bem.
Qual a diferença entre dom e virtude da fortaleza?
Porém, entre o grupo das sete virtudes, teologais e cardeais, e o grupo dos dons do Espírito Santo, que também são sete, apenas uma está em um grupo e no outro: o dom e a virtude da fortaleza.
Qual é o significado desta ambiguidade? São Tomás é quem nos explica, na questão 139 da Suma Teológica: “A virtude da fortaleza modera o temor e audácia que dizem respeito aos perigos que o homem pode afastar com suas forças; já o dom da fortaleza diz respeito aos perigos e males que, de maneira alguma, pode-se evitar”.
Ou seja, enquanto a virtude da fortaleza nos ajuda a sermos fortes contra os males comuns da vida, que precisam ser afastados e repudiados, o dom da fortaleza atua em um campo mais alto: nos faz fortes contra o que não podemos afastar, como a morte, tanto nossa quanto a de um ente querido.
É por isso que podemos ainda dizer que o dom é o aprimoramento da virtude da fortaleza. Nós encontramos o auge deste dom e virtude nos mártires, pois enfrentaram tanto os perigos que podiam ser afastados quanto os que não podiam ser evitados, e não renegaram a sua fé mesmo assim.