Quem nunca se deteve diante de um bonito animal e desejou quase instantaneamente prolongar os deleites daquela visão prazerosa tirando uma fotografia? Poucos, por certo, se é que houve alguém. Contudo, apesar de ser grande o contingente dos observadores, não muitos dentre eles estão dispostos a fazer a respeito disso uma análise profunda, buscando saber de onde se desprende este encanto que tanto os atrai.
Há no universo um número incontável de seres. Cada qual possui características que o distinguem dos demais, é fácil notar. Para observantes inexperientes, estas características poderiam parecer um erro considerável dentro da natureza, pois provocam a superioridade de uns em relação a outros. Assim, um pássaro repleto de cores, que à luz do sol expõe seu penacho e reluz ora mais intensamente ora menos, prendendo a si os olhares até mesmo dos mais desatentos, é objeto de preferência em relação a outro, belo por seu porte e elegância, mas singelo na coloração.
De fato, fica patente a existência de certa superioridade, porém isto não constitui erro algum. A desigualdade na criação, ao contrário de trazer um mal, acentua o que em cada ser é reflexo de Deus, e, além disso, proporciona ao homem a possibilidade de galgar do “menos bom” ao melhor, sucessivamente, e desta forma atingir o Bem absoluto. Dá também vivacidade à vida nesta terra que tão monótona seria se composta de seres idênticos, sem qualquer diferenciação. É ainda um dos fatores essenciais para se obter o pulchrum, visto que algo pode ser belo de diversas formas: do pavão, ave tão rica em esplendores e exuberâncias poder-se-ia perfeitamente dizer que representa a beleza na variedade, enquanto do cisne, alvo de um branco sintético, nobre e distinto, a beleza na unidade. Enfim, a natureza cheia de atrativos para quem a contempla não esconde os segredos de sua formosura. Generosa, não teme repartir os tesouros com os quais seduz e envolve as almas admirativas. Eis aí, retirado do escrínio de suas jóias, precioso princípio que sempre a adorna: a desigualdade.