Qual é a gênese, a origem, a base sobre a qual se assenta a santidade, aspiração que deve marcar a vida de todo batizado? Sem dúvida, ela parte do reconhecimento sincero da miséria humana, unida ao encanto pela totalidade única e benevolente que é Deus.

O cântico do Magnificat, proclamado pela Santíssima Virgem, é o mais belo hino a essa rocha firme sobre a qual se constrói o edifício da perfeição espiritual. A disposição de espírito humilde e agradecida diante de Deus constitui o preâmbulo necessário para alcançar o Céu, antes mesmo do que a prática dos Mandamentos, o exercício das obras de misericórdia ou a compreensão intelectual dos artigos do Credo. Pois sem humildade, e sem o poder de Deus que nos auxilia com sua graça, não há mérito nem virtude.

A Eucaristia não é “opcional” ou “descartável”

Humildade, santidade, Eucaristia… desigual e maravilhosa trilogia! Todos os Santos foram humildes, mas também devotos do Santíssimo Sacramento. Foram-no também, decerto, as almas que estão de passagem no Purgatório, embora estas talvez pudessem tê-lo sido um pouco mais…

De alguns Bem-Aventurados, como São Pascoal Bailão, São Pedro Julião Eymard ou São Manuel González García, diz-se com propriedade que são almas eucarísticas. Fizeram de sua vida um culto apaixonado às Sagradas Espécies e um apostolado ardente do mistério eucarístico. Porém, repetimos, todos os Santos, nos três estados que compõem a Igreja Católica – triunfante, padecente e militante – foram ou são de algum modo devotos da Eucaristia.

Cabe aqui uma pergunta: tornaram-se Santos por sua devoção a Jesus Sacramentado ou encheram- -se de ardor eucarístico porque antes se santificaram? Dir-se-ia que essa questão não tem sentido, mas não é assim. Convêm frisar que, sem terem adorado o Sol Eucarístico que iluminou seu caminhar, sem terem se alimentado com o Pão dos Anjos, os Bem-Aventurados não teriam feito voar seu espírito pelas vias da perfeição.

A Eucaristia não é algo acidental, nem muito menos – nunca! – “opcional” ou “descartável”. Ela é Deus hic et nunc, aqui e agora: o mesmo Jesus Cristo ressuscitado que Se encontra à direita do Pai está também presente na Hóstia consagrada!

Motivos para participar da Santa Missa

Consideremos, então, a obrigação de participar da Eucaristia dominical. Não se concebe que um católico não cumpra esse preceito; mas ele não consiste num mero ato de presença, ocupando um banco na igreja, nem exige, em sentido contrário, sentir luzes e consolações interiores durante a celebração.

Deve-se ir à Missa sabendo o que ela significa para nossa Fé e participando das suas diversas partes com atenção e respeito. Se isso requer que façamos esforço, benditas sejam a aridez, as dificuldades e a falta de vontade! Esses sentimentos farão com que nossos méritos sejam maiores e as graças obtidas, embora no momento não as possamos aquilatar, mais abundantes.

Além de ser um Mandamento da Santa Igreja, há outros fortes motivos que nos levam à participação da Eucaristia dominical: o benefício de ouvir a Palavra de Deus, de receber a Comunhão, a possibilidade de se reconciliar com Deus mediante a Confissão, quando necessária, bênçãos, bons conselhos… Pesa também o reencontro com os outros membros da comunidade, o bom exemplo dado aos amigos, vizinhos e conhecidos, etc.

Além do mais, na Celebração Eucarística dá-se um encontro com os Anjos, o que não é dizer pouco, porque onde está o Santíssimo Sacramento, ali estão eles adorando-O… à espera dos homens!

A Missa é, em suma, algo enorme, infinito! Nela se renova o Sacrifício da Cruz que me redimiu e me abriu as portas do Céu. Ao participar dela, aplicam-se à minha pessoa os méritos infinitos de Cristo. Como, então, posso perdê-la?

Passar a semana sob influxo da Eucaristia dominical

Mas o empenho em se santificar e o amor à Eucaristia não deve estar restringido aos dias de preceito.

O vocábulo Missa (do latim, missio) significa envio, e as palavras do rito de despedida são eloquentes: “Ite Missa est”, “podem ir em paz”, “glorifiquem o Senhor em suas vidas”, “ide em paz, que o Senhor vos acompanhe”…

Qualquer que seja a fórmula usada, trata-se de um mandato: é preciso passarmos a semana alimentados pelo duplo banquete servido na Missa, o da Palavra e o da Eucaristia. Essas celestiais iguarias fortalecem a nossa alma, enriquecem-nos a vida interior e santificam-nos, muitas vezes imperceptivelmente.

O domingo é o principal dia da semana; o que acontecer nos outros será consequência de como se viveu o primeiro. Quem não cumpre o preceito não terá as forças  necessárias para passar cristãmente a semana e estará muito mais exposto às quedas e aos fracassos. Sabemos disso por experiência… Se por justa razão não foi possível ir à Missa, não há falta. Mas é preciso termos bem claro o valor intrínseco desse ato litúrgico, infinitamente maior do que tantas outras “coisas importantes”…

A vida em família, o trabalho, o estudo, as relações com outras pessoas, a oração, as visitas ao Santíssimo Sacramento e as boas obras podem ser um tesouro para nossa santificação. Não desperdicemos as oportunidades que elas nos brindam. Façamos, pelo contrário, todas as coisas grandes ou pequenas do dia a dia sob o influxo do envio dominical.

Chamado universal à santidade

Lembremos, para concluir, que o chamado à santidade é universal. Sobre cada pessoa paira um desígnio específico de Deus que deve cumprir-se, e só será possível fazê-lo com as energias hauridas no Sagrado Banquete. Prescindindo dele, jamais. Por isso Santo Anselmo, Doutor da Igreja, tem este piedoso pensamento tantas vezes repetido:  “Uma única Missa oferecida e assistida devotamente em vida por uma pessoa, em seu próprio benefício, pode valer mais do que mil celebradas na mesma intenção após a morte”.



Se uma única Missa vale tanto, o que se pode esperar de uma vida inteira à luz da Eucaristia, adorando regularmente o Santíssimo Sacramento e participando com fervor das celebrações?

Começou cheio de incógnitas o ano 2020… Vivamo-lo com o propósito de sermos santos sob o manto de Maria e de nos familiarizarmos com o Pão da Vida. A menos que não queiramos que o Senhor “realize maravilhas em nosso favor” (cf. Lc 1, 49).  (Transcrição, com adaptações, da mensagem escrita para a Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja, da qual o autor é Conselheiro de Honra)(Revista Arautos do Evangelho, Fevereiro/2020, n. 218, p. 28-29).