Jesus é descido da Cruz.
Cuidadosamente, Nicodemos, José de Arimatéia e São João O conduzem até Maria Santíssima e O depositam em seu virginalíssimo regaço.
Sentada, Ela O acolhe transida de dor e O adora.
Enquanto as Santas Mulheres preparam os bálsamos com que em breve irão ungi-Lo, para ser depositado no sepulcro, Ela oscula, uma a uma, suas Chagas: a do peito rasgado, as dos divinos pés e mãos.
Realiza-se ali o primeiro ato de devoção e adoração às Chagas do Redentor, que iria perpetuar-se por todas as gerações.
A Bem-Aventurada por excelência rende o mais perfeito culto de latria às fontes sagradas de onde jorrou o Sangue que redimiu total e superabundantemente todo o gênero humano.
As cinco fontes de graças infinitas
Por causa daquelas Santíssimas Chagas, Ela fora preservada do pecado original e aos homens de boa-vontade abriram-se as portas do Céu.
Cinco fontes de graças infinitas, plenas de formosura, saciando a santidade das almas contemplativas, missionárias e apostólicas, selando a coroa de glória dos mártires e as vitórias de todos os tempos.
Eis o manancial que nos purifica no Batismo, nos revivifica na Eucaristia e dá fecundidade a toda a Santa Igreja, nos seus sacramentos.
Eis a santa argamassa que, ligada aos sacrifícios dos homens, erguerá os mais belos monumentos e poemas da Civilização Cristã.
"Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado".
Poucos dias após a ressurreição, é o próprio Redentor que convida o incrédulo Tomé a ter devoção às suas Santas Chagas.
Já deslumbrado, ele respondeu-Lhe:
"Meu Senhor e meu Deus!"
As tíbias almas que dificilmente se deixam convencer, a progênie dos cépticos, a própria incredulidade, quase se diria, sucumbiram no instante mesmo em que aquele feliz e invejado Apóstolo introduziu seu dedo no lado de Jesus.
São Francisco de Assis, Santa Gemma Galgani, São Pio de Pietrelcina – enfim, uma legião de santos e almas virtuosas –, foram galardoados com os estigmas da Paixão de Cristo.
É um modo maravilhoso de Ele condecorar alguns daqueles a quem mais ama, na face da terra.
É seu invisível e puro amor tornado visível em seus prediletos, para perpetuar na memória dos homens a bem-aventurança daqueles que acreditam sem terem visto e tocado as Chagas do Senhor, como Tomé.
Devoção às Santas Chagas
A devoção às Santas Chagas não é privilégio apenas de algumas almas, mas o é também de nações.
Em Portugal, por exemplo, ela é muito antiga e marcou profundamente a piedade dos fiéis, quase desde os alvores da nacionalidade.
Camões, em seu imortal poema Os Lusíadas, na dedicatória ao rei Dom Sebastião registra em versos essa antiga e piedosa tradição, gravada também na bandeira nacional e no escudo heráldico da Casa Real:
Vede-O no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele para Si na Cruz tomou.
A devoção às Chagas de Jesus Cristo, sinais amorosos de seu martírio e, posteriormente, de sua glorificação, aperfeiçoam em nós a gratidão, que leva a pagar amor com amor, até o holocausto total, por Deus e pelos irmãos.
Adoremo-las profunda e devotamente nesta Semana Santa.
Hino às Santas Chagas do Senhor
Cinco fontes de graças infinitas,
Ó Chagas, cheias de alta formosura,
Aceitai a tensão humilde e pura
Das palavras que digo e tenho ditas.E quantas na minha alma têm escritas
Mil culpas feias, com mão feia e dura,
Curai com vossa graça e com brandura,
Ó Chagas d'meu Senhor, Chagas benditas.No sacro Sangue que de Vós correu
Se cure; e lave e gaste e purifique
As nódoas que com dor nelas estou vendo.Por vós, que belas sois, formosa fique,
Por vós resplandecente entre no Céu,
Onde vos veja estar resplandecendo.