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Plinio Corrêa de Oliveira


Afetuoso convívio epistolar
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 02/09/2019
 
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Durante a viagem de Dr. Plinio pela Europa em 1952, Dª Lucilia não se satisfazia apenas com as cartas que ele lhe escrevia. Não perdia ocasião de ler e guardar outras, enviadas pelo “filhão querido” aos amigos do 6º andar. Vejamos como descreve Dr. João Paulo a atitude de gratidão de Dª Lucilia para com seu sobrinho Adolpho, por lhe haver proporcionado a oportunidade de degustar uma delas:

Foi com o maior prazer que recebemos, trazida ontem pelo Adolpho, a tua carta coletiva, endereçada aos rapazes do 6º andar. Lucilia a leu à noite, ao deitar-se, e amanheceu a transmitir-me com calor todas as emoções que sentira; na suposição de que a carta fora deixada no seu criado mudo pelo Adolpho, abriu a favor deste um crédito de beijos a ser satisfeito à vista do mesmo Adolpho…

Tendo a referida carta sido entregue depois da que ela Lucilia te manda, por isso nenhuma alusão fez nesta àquela. Em seguida Dr. João Paulo comenta um jantar oferecido por Dª Lucilia a alguns parentes:

Lucilia esmerou-se no feitio do seu banquete; houve bastante alegria e ela própria se manifestava afinal verdadeiramente radiante. Todavia, notava a tua falta, o que restringia sua alegria.

“As palavras de Cristo não passam”

À medida que se escoam os dias, apesar das saudades, encontramos Dª Lucilia sempre em paz e senhora de si, como nos mostram suas cartas. Em sua equilibrada atitude vemos reluzir o sentimento materno profundo e amoroso, guiado pelas virtudes da Fé e da Temperança.

São Paulo, 22-7-52.
Filho querido de meu coração saudoso!

Esperava receber uma carta… e nada! Provavelmente terei uma amanhã, não é verdade? Elas me chegam às mãos de ordinário, às terças ou quartas-feiras. Já enviei-te uma na semana passada para Madrid, foi recebida? Receio que sejam muito longas e fastiosas, mas sabes querido? é este ainda um único meio de me iludir de que, de algum modo, estou um pouco contigo.

Não sei porquê, mas sinto com freqüência uma forte apreensão de coração ou espírito, de que não te sentes bem de saúde, nem de espírito. Não abuses dos pratos deliciosos, mas excessivamente requintados dos restaurants. Cuidado com o fígado que é o nosso mal de família. Quanto ao mais, “tenhamos fé”, os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, hão de te velar e proteger por todas as formas. Rezo e peço tanto ao “Canal das Graças”! E as palavras de Cristo, não passam. Hás de ser muito feliz, e abençoado por “Deus”.

Com teu pai, Rosée e Antônio, jantei ontem em casa de Maria Alice.

Maria Alice é um encanto em sua casa. Está colecionando umas receitas para eu executar para você, fez um creme delicioso — de côco — para o avô, e mandou vir uma bela fita cinematográfica inglesa, em tamanho natural, para ser passada na máquina do Eduardo. Maria Alice e Rosée acabam de sair, e enviam-te muitos beijos. Já mandaste dizer a missa que te pedi, no altar de Nª Sª da Begoña. Insisto muito nesse sentido. Vê se me fazes isto; sim?

Nossa casa continua sempre deliciosa, esperando pelo querido dono e senhor. Já viste todos os teus amigos espanhóis? Quando, e para onde vais agora? Escreva-me e logo! Com todo o carinho, abençoo-te, beijo-te e abraço-te até ao fundo do coração.

De tua mãe extremosa, Lucilia.

No mesmo envelope da carta acima seguia outra, de Dr. João Paulo, informando a Dr. Plinio que Dª Lucilia “se encontra em boa saúde, satisfeita. Só uma coisa lhe dói, a saudade do filho ausente, que lhe não sai da memória constantemente”.


Altar de São Pio X, diante do qual Dr. Plinio rezou por ocasião de sua visita ao Vaticano, em 52

Poucos dias depois, novidades de Roma vinham alegrar o coração de Dª Lucilia. Eram os frutos de suas confiantes e persistentes orações que, agradecida, ela depositaria aos pés do Sagrado Coração de Jesus.

Roma, 18-7-52
Luzinha, meu amor

Recebi sua carta ontem, que me deixou indignado com o correio. Tenho escrito várias vezes, e a minha Lú me diz que só recebeu uma carta minha! É um escândalo, pura e simplesmente. Mas espero que a Sra. neste interim já tenha recebido pelo menos a última que lhe enviei de Roma.

A viagem, como proveito, supera de muito a minha expectativa. Conto deixar Roma para Barcelona domingo cedo, cheio de alegria.

Será que Rosée também não recebeu minhas cartas?

Escrevam para Madrid contando notícias bem detalhadas, principalmente Fazenda Sta. Alice que me dá cuidado pelo frio.

Meu amor querido, milhões de beijos para a Sra, do filho que a quer inexprimivelmente, e lhe pede a bênção. Plinio

Essas seriam as últimas linhas que Dª Lucilia receberia vindas da bela Itália, pois a esta altura seu filho já se havia dirigido à galharda Espanha, terra que lhe recordava alguns remotos ancestrais.

O “sanguinho” dos Rodrigues Camargo e dos Ortiz

Dr. Plinio desembarca no aeroporto de Madri

“De tanto pensar em Itaici, tenho a impressão de já conhecê-la”, escreveu Dª Lucilia certa vez a seu filho, quando este passava uns dias naquela localidade do interior paulista. O mesmo se poderia dizer a propósito de cada lugar percorrido por ele em suas viagens. Desse modo, quer durante as fervorosas e tranqüilas orações da manhã, quer durante as refeições, nas horas de contemplação, ao receber visitas, nos afazeres domésticos ou na hora da “prosinha” noturna, por assim dizer, ela “voou” com seu filho da Itália à Espanha, “passeou” pelas ruas de Barcelona e, quiçá, tenha “assistido” a uma tourada em Madri…

No dia 30 de julho, Dª Lucilia recebeu a seguinte missiva de Dr. Plinio:

Luzinha, meu amor querido.

Pouco antes de deixar — muito satisfeito — a Itália, recebi uma carta sua, queixando-se de que eu só lhe havia enviado uma carta. Respondi logo por outra carta, e também no telegrama ao Adolphinho, dizendo-lhe que tenho escrito várias vezes.

Hoje, dia de minha chegada a Madrid, é festa de S.Tiago, padroeiro da Espanha, dia Santo com feriado nacional. Nossa embaixada e nosso consulado estão fechados. Amanhã, conto ir pegar cartas lá, pois, não sem surpresa, este hotel não tinha correspondência para mim.

Em Barcelona, passei dias agradabilíssimos. A comida regional catalã é um sonho, e “Los Caracoles” um dos melhores restaurants do mundo. Papai, lá, estaria no seu elemento: lagostas, lagostins, camarões, mariscos, ostras, calamaretes, frutos do mar em quantidade, variedade e sabor incríveis.

Aqui, cheguei cedo, dormi antes do almoço, dormi depois do almoço, fui a uma tourada, e passeei por um parque lindo, o Retiro.

Gostei da tourada, e muito. Lembrou-me analogicamente muita estrategia que tenho usado em minha vida, fazendo às vezes o papel de touro, outras de toureiro. Durante a tourada, até tive uma surpresa: quando dei acordo de mim, estava aplaudindo sinceramente um toureiro, que realmente havia logrado o touro de modo exímio. Poucas vezes em minha vida me tem acontecido de bater palmas espontaneamente e com calor. Uma das coisas de que gostei foi o estilo dos toureiros: roupas bonitas, varonilidade feita de força e de saúde sem dúvida, mas sobretudo de vida, agilidade, inteligência. Devo passar uns dias aqui, indo depois a Sevilha. Dessa cidade, volto a Madrid, rumo a San Sebastian e Lourdes. Depois Paris. E, em Paris, começará a se pôr a perspectiva da volta como bem próxima.

Espero amanhã ter notícias suas. Continue a mandá-las para o Ritz, até que eu dê outro endereço, e comunique isto a todos.

Bem, minha flor, meu coração, meu bem: com milhões e milhões de saudades suas, pede sua bênção, e envia-lhe os beijos mais afetuosos do mundo o seu filhão, Plinio

Alegrando-se em constatar o reviver, em seu filho, do sangue de remotos antepassados hispânicos, e consolada por notar que ele se encontrava forte e saudável, Dª Lucilia resolveu responder naquele mesmo dia. Na carta, cada notícia ou comentário — seja uma palavra de carinho ou uma ponta de ironia, uma expressão de preocupação ou mesmo de temor — trazia a inequívoca nota de serenidade e de elevação do seu modo de ser.

São Paulo, 30-VII-1952.
Filho querido de meu coração!

Com imenso prazer, recebi hoje tua carta de Madrid, datada de…?, e penalizou-me tua decepção, não encontrando cartas minhas e de Rosée já endereçadas para aí.

Não imaginava que, no fundo, tivesses esse “penchant”¹ pelas touradas, é o “sanguinho” dos Rodriguez Camargo, e Ortiz, que ainda fala!

Peço-te mais uma vez, como o tenho feito em todas as cartas, que mandes dizer uma missa no Altar de Nossa Senhora da Begoña, e acender uma vela por intenção de tua irmã, que tem sido boníssima para mim.

Certamente, causa-me grande prazer a antecipação de tua volta para cá, mas, ao mesmo tempo, avaliando o pesar muito natural, aliás, com que o fazes, parece incrível, mas insensivelmente ponho-me a lastimar que não possas demorar-te… “um pouquinho” mais.

Quanto ao frio no Paraná, por enquanto, não tem trazido geada, e eu mais do que nunca tenho atormentado o bom São Judas Tadeu.

Nossa casa tão bonita e “cosy”², está suspirando por você. O meu “toureador” está fazendo falta!

Deves estar cansado de ler tantas…. niaiseries³, mas é um meio de iludir as saudades, escrevendo.

Reza em Lourdes por mim, que rezo, comungo, e faço promessas por ti, meu filho querido! Com minhas bênçãos, envio-te os mais afetuosos beijos e abraços. De tua mãe extremosa, Lucilia

O bem é eminentemente difusivo, ensina São Tomás. Tal princípio é comprovado até nas menores atitudes de Dª Lucilia. Sempre ciosa de partilhar com os outros suas alegrias, convidou Dª Zili a redigir umas palavras, à guisa de post scriptum, para que também ela pudesse conviver um pouco com o sobrinho:

Meu querido Plinio.

Vim jantar com teus Pais. Como sempre, trabalhando muito. Hoje tive um grande prazer, pois na “Semana dos menores” o diretor do Educandário foi solicitado a fazer uma conferência e saiu-se admiravelmente. Foi um sucesso e uma vitória para a Liga4. Já deixamos a casa grande e estamos muito bem instalados na provisória.

Egoisticamente, estou contando o tempo que falta para a tua chegada. Beija-te e abraça-te a tua tia, Zili (Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias)(Revista Dr. Plinio, Outubro/2003, n, 67, pp. 10 a 13).

 
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