Caro leitor, és convidado hoje à exaltação do símbolo máximo da Cristandade: a Santa Cruz! Porém, de início, alguém poderia nos perguntar: “Mas se a Igreja Católica é a religião da vida, por que glorificar esse instrumento de morte?”. Diz São Paulo: “Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos; mas para os eleitos – quer judeus quer gregos -, força de Deus, e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1 Cor 1,23-25).
No alto da cruz, na aparente derrota, no aparente fracasso, escândalo e loucura, Jesus nos libertou da morte e do pecado. No alto deste madeiro, reservado aos criminosos mais perversos, Cristo venceu o demônio e nos abriu as portas do céu. Por isso, a cruz é para nós o luzeiro que nos indica o caminho, nesta terra de exílio, rumo à Jerusalém Celeste: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me“ (Lc 9,23). De sinal de ignomínia, a cruz passou a ser sinal de glória para os homens de fé. E assim como Constantino a colocou em seus estandartes, a cruz passou a figurar em todos os lugares onde há um batizado, desde o báculo dos Papas ou a coroa dos reis, até mesmo a parede de uma humilde casa de aldeia.
Além disso, o demônio foge deste sinal de sua derrota e de nossa libertação. Sucedeu a Santo Antônio, Abade do séc. II, que o demônio o atormentava com terríveis tentações. Um dia, angustiado por tantos ataques, ocorreu-lhe fazer o sinal da Cruz. O demônio se afastou imediatamente; daí em diante, cada vez que era perturbado, o santo fazia novamente o sinal da cruz, pondo em fuga o espírito das trevas.
Uma bela e antiga tradição narra como Santa Helena, no séc. IV, encontrou em Jerusalém a verdadeira Cruz de Jesus. Segundo São Cirilo de Jerusalém, Santo Ambrósio e Rufino, depois de muitas e profundas escavações, os exploradores encontraram três cruzes, não sabendo porém distinguir a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Levaram, então, para o local, uma mulher agonizante e nela tocaram cada uma das três cruzes. Ao tocá-la com a terceira cruz, a doente recuperou instantaneamente a saúde e se levantou. Vendo esse milagre, Santa Helena, juntamente com São Macário, bispo de Jerusalém, e milhares de fiéis, saíram em procissão pelas ruas, portando consigo o adorável instrumento da Redenção. No caminho, encontraram-se com uma viúva que levava seu filho morto para ser enterrado. Aproximaram do defunto a Santa Cruz e ele, para surpresa de todos, ressuscitou.
No séc. VII, o Império Bizantino (sucessor do Império Romano do Oriente) travava uma guerra interminável com os Persas. Estes conquistaram a Palestina em 614, apossando-se de tesouros e da relíquia da Santa Cruz. Somente a 14 de setembro de 627 o imperador Heráclio, havendo invadido a Pérsia, a recuperou, passando esta data a ser celebrada por toda a cristandade como a festa da Exaltação da Santa Cruz. Para evitar novos roubos, a Cruz foi dividida em vários pedaços. Um deles foi levado a Roma, outro a Constantinopla e um terceiro ficou num belo cofre de prata em Jerusalém. Outro foi dividido em pequeníssimos fragmentos, enviados a igrejas do mundo inteiro. Hoje em dia, em Roma, encontra-se na Igreja da Santa Crocce (Santa Cruz) o maior fragmento existente da verdadeira Cruz de Jesus, bem como outras relíquias da Paixão.
São grandes as dificuldades a enfrentar e duros os caminhos a percorrer nesta terra, principalmente em nossos dias, nos quais a sociedade é abalada por tantos males e ameaças. “A vida do homem sobre a terra é uma luta!” (Jó 7, 1). O que importa é não se deixar abater, assim como o Homem-Deus não se deixou desanimar. Mesmo tendo caído por três vezes no caminho do Calvário, levantou-Se corajosamente e chegou até o fim da sua Via Crucis.
Com razão ensinou São João Paulo II, sobre a Exaltação da Santa Cruz, quando esteve no Brasil, aos pés do Cristo Redentor: “A cruz, símbolo da fé, é também símbolo do sofrimento que conduz à glória, da paixão que conduz à Ressurreição. ‘Per crucem ad lucem’, pela cruz, chega-se à luz: este provérbio, profundamente evangélico, nos diz que, vivida em seu verdadeiro significado, a cruz do cristão é sempre uma cruz pascal”
Trechos adaptados de Revista Arautos do Evangelho, ano I, n. 9, set. 2002, p. 42-43