Nada mais salutar que entregar o ano novo nas mãos de Nossa Senhora, celebrando no dia 1º de janeiro a festa de Maria, Mãe de Deus.
Os paramentos da sagrada celebração costumam ser os azuis, a cor de Maria Santíssima na liturgia, com uma Santa Missa toda festiva, o altar todo ornado de flores e o turíbulo espargindo incenso em toda a assembleia.
Ao fiel despercebido, porém, pode se originar uma dúvida um tanto quanto cruel: como uma criatura pode ser mãe de Deus? Como um Filho existe primeiro que sua Mãe?
Essa mesma dúvida originou intensas controvérsias no oriente neo cristão, no século IV. Nestório, famoso heresiarca, com um coração nada puro, deixou os estudos de lado e passou a pregar sua versão da religião, onde Maria era mãe apenas do lado humano de Jesus, não podendo ser invocada como Mãe de Deus.
Os católicos, incomodados com esse descaso com alguém que viam com tanta devoção e respeito, procuraram as autoridades eclesiásticas para relatar os fatos e obter uma resposta satisfatória.
Deus não abandona aqueles que procuram a verdade com o coração sincero. Entre os maiores doutores da Igreja vivos estava o grande São Cirilo de Alexandria, sábio, convicto, fiel e versado nas Sagradas Escrituras.
Convocado um concílio, isto é, uma reunião de todos os altos prelados da Igreja junto ao Papa para analisarem uma questão da doutrina, Nestório pôs todo seu veneno ao defender suas ideias, chegando a petulância de comparar a religião católica com o panteão grego, com toda aquela mitologia indecente.
São Cirilo, porém, com uma lógica afiadíssima, pôs diante de todos ali uma pergunta que mudou o rumo das afirmações de Nestório: Por acaso alguém é mãe apenas do corpo? Ou, quando se é mãe, não se é mãe da pessoa?
Quando falamos que conhecemos a Mãe de João, por exemplo, conhecemos aquela que é mãe de todos os lados de João: a parte física ou biológica, mas também do psicológico, do emocional, etc.
Assim também, continuou a proclamar São Cirilo, Maria é Mãe da Pessoa de Jesus. Se sabemos que o Homem-Deus tinha duas naturezas, mas apenas uma Pessoa, e uma Pessoa Divina, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Maria, portanto, é Mãe de Deus.
Sob o som das palavras de São Cirilo, repletas de verdade e lógica, a graça do Senhor agiu nos corações e a assembleia proclamou: Santa Maria, Mãe de Deus!
O Santo Padre que presidia o concílio de Éfeso, em 431, assim, instaurou estas palavras na oração que hoje conhecemos como Ave-Maria, a primeira parte sendo tomada dos Livros Sagrados: “Ave Maria, Cheia de graça, o Senhor é convosco” (Lc 1, 28) e “Bendita sois Vós entre as Mulheres, e Bendito é o fruto que nasceu de seu ventre” (Lc 1,39), com o final completado pela devoção filial: “Santa Maria, Mãe de Deus, Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.
Teotoclos foi o termo grego usado: “Mãe de Deus”.
Que a grandeza de Nossa Senhora, aquela que, por um mistério da fé, foi elevada mais alta que qualquer criatura algum dia se elevará, a verdadeira e única Mãe de Deus, nos abençoe todos neste ano novo que se inicia, dando forças para nossos passos, luz para nossos projetos, humildade e confiança em nossas quedas, sucesso para nossas metas.