Roma (Quarta, 29-07-2009, Gaudium Press) "Ao novo milênio que se abriu sob o signo da palavra ‘crise', a encíclica propõe um vocabulário vasto, um ‘léxico de paz' cadenciado pela palavra ‘esperança'. Assim foi apresentada a encíclica "Caritas in Veritate", mais recente de Bento XVI por Renato Schifani, presidente do Senado italiano. Schifani foi o primeiro a discursar, ontem, na apresentação da primeira encíclica social do Papa no Senado.
A obra foi analisada na casa legislativa italiana também pelo cardeal Tarciso Bertone, secretário de Estado do Vaticano. O convite foi feito pelo próprio presidente da Camera Superiore. Políticos italianos de diversas esferas federais estiveram presentes na sessão para escutar do que se trata a obra e como, segundo Bertone, ela pode ser aplicada no âmbito político.
O encontro aconteceu na Sala Capitolare do Palazzo Madama, na Praça Minerva, em Roma, mesmo local onde em 13 de maio de 2004 o então cardeal Joseph Ratzinger proferiu um discurso catedrático sobre o continente Europeu, "Europa, os seus fundamentos espirituais ontem, hoje e amanhã".
"Podemos afirmar que, de alguma forma, a encíclica abre o novo milênio após um período prolongado de "crise", se projeta em direção a um "tempo novo", e é também ocasião para repensar a economia do mundo global, para procurar novas regras em uma sociedade em profunda transformação", afirmou em seu discurso o senador Schifani.
O presidente do Senado ponderou que a política não deve ser feita "de cima", mas deve estar balizada no "juízo da razão, que é a mãe do direito". O senador pediu por uma "política do ‘sim' à confiança na recuperação, à retomada de uma imagem alta e nobre da política, ao sentido do Estado vivido como valor irrenunciável, ao crescimento da economia e à uma nova aliança entre empresas e trabalhadores". De acordo com ele, no entanto, é necessário cultivar também a política do "‘não', não à corrupção, à máfia, à chantagem ignóbil do agiota, às várias formas de escravidão e abuso do homem".
Para Schifani, a "Caritas in Veritate" responde às teorias sobre capitalismo "com uma proposta e ao mesmo tempo uma provocação", e que esta provocação "é a resposta para a crise, é a provocação de uma verdade, é prática".
Rebato Schifani lembrou que "à pobreza se deve responder não somente com uma riqueza do tipo material, o dinheiro, mas também com uma riqueza que se realiza antes de tudo em uma disponibilidade para dividir tempo, alegrias e sofrimentos com quem está ao nosso lado, sobretudo nos momentos de maiores dificuldade e dor", finalizou o presidente do Senado.
Bertone
O cardeal Tarciso Bertone começou sua análise sobre a encíclica recordando o tema da lei natural, levantado alguns meses atrás pelo documento da Comissão Teológica Internacional sob o tema "À pesquisa de uma ética universal: novo olhar sobre a lei natural". Segundo ele, a lei natural ajuda a entender a natureza do homem e os seus direitos humanos.
"São considerações que valem não só para os direitos do homem, mas para toda intervenção da autoridade legítima chamada a regular, segundo uma verdadeira justiça, a vida da comunidade mediante leis que não são fruto de um mero entendimento convencional, mas que miram no autêntico bem da pessoa e da sociedade".
Segundo o purpurado, a encíclica do Papa possibilita que se avance sobre o que ele considera uma "dicotomia entre a esfera econômica e a esfera social". Bertone observa que a "Caritas in Veritate" não tem um alcance apenas entre os fiéis católicos, nem propõe uma ideologia nova, mas baseia-se em "realidades antropológicas fundamentais", como a verdade e a caridade.
"O agir econômico não é algo de estranho ou alheio aos princípios da doutrina social da Igreja, que são a centralidade da pessoa humana, a solidariedade, a subsidiariedade, o bem comum", pondera Bertone sobre a posição da encíclica e da Igreja. Ele esclarece que a Igreja não é contra o capitalismo, mas, ao contrário, "a doutrina social da Igreja nos recorda que uma boa sociedade é fruto certamente do mercado e da liberdade, ainda que existam exigências, reconduzíveis ao princípio da fraternidade, que não podem ser apagadas, nem restritas à mera esfera privada ou à filantropia".
"A ‘Caritas in Veritate' nos ajuda a compreender que a sociedade não é capaz de um futuro se o princípio de fraternidade se dissolve; não é assim capaz de progredir se existe e se desenvolve somente a lógica do ‘dar para ter', ou do ‘dar para dever'. Isso porque, nem a visão liberal-individualista do mundo nem a visão estatocêntrica da sociedade são guias seguros para nos fazer sair dos pântanos nos quais as nossas sociedades estão hoje afundadas", concluiu Bertone.