Qual é a opinião de Vossa Eminência sobre a atual situação da Igreja no mundo?
A nossa época está marcada pelo secularismo, por uma restrição e limitação dos horizontes no mundo interior. Além do mais, nos países de antiga tradição cristã, existe um contramovimento que procura fazer desaparecer completamente o Cristianismo do âmbito público e reduzir a Igreja a uma pequena associação privada, sem nenhuma influência na formação da sociedade ou no pensamento humano. E isso nós, como Igreja, não podemos aceitar, pois somos livres por natureza para confessar a nossa Fé e temos a obrigação de responder ao chamado feito por Nosso Senhor de anunciar o Evangelho a todos.
O cerne do Evangelho está em reconhecer que nenhum homem pode nos remir: nem Stalin ou Hitler, nem um ditador autoproclamado, nem os ideólogos… Também não nos podem remir a ideologia de gênero, ou as que levam à prática da pedofilia ou ao comportamento homossexual e sua equiparação com a família. Todas estas ideologias roubam a dignidade do homem, enquanto o Evangelho nos dá como presente a santidade dos filhos de Deus.
O Evangelho impede que a compreensão humana se entorpeça com a névoa de ideologias como essas, pois ela se desfaz ao ser iluminada pelo Sol que é Cristo. Ele é o contrário das escuras nuvens das ideologias humanas de redenção, que ofuscam o entendimento.
Poderia Vossa Eminência dizer algo especificamente sobre a situação da Igreja no Brasil?
Já estive seis vezes no Brasil e todas essas estadias ficaram marcadas pela constatação do colonialismo e da escravidão que aqui houve no passado, em completo desacordo com a dignidade humana. Todos somos iguais em dignidade; ninguém tem o direito de explorar o outro, ou fazer dele um instrumento de seu desejo de poder.
Por isso é necessário que a Igreja no Brasil dê ênfase à dignidade humana, sem se intimidar com as forças adversas. Toda a Igreja – fiéis e pastores – deve deixar claro de que fonte nos alimentamos, isto é, do Evangelho, no qual Deus nunca humilha o homem; ao contrário, sempre o eleva.
É importante que a Igreja não busque agradar aos homens, à mídia, ao populismo, mas sim a Deus, mesmo que por esta razão seus membros sejam atacados ou perseguidos fisicamente, como acontece muitas vezes em países de cultura muçulmana. E não somente neles, pois também se perseguem os católicos na América Latina, Europa e América do Norte, onde são com frequência ridiculizados por sua Fé ou apresentados como fanáticos de direita. Não se pode permitir isso! Quem ataca a dignidade humana deve escutar de nossos lábios palavras semelhantes às que Jesus dirigiu ao guarda do sumo sacerdote, consignadas no Evangelho: “Se falei bem, por que me bates? E se falei mal, demonstra-me, inimigo da Igreja, quais são teus argumentos” (cf. Jo 18, 23). Em um ataque terrorista provocado por islamitas é muito difícil que alguém aponte como responsável o Islã; no entanto, quando um sacerdote se deixa desviar por uma falsa ideologia, põe-se a
culpa na Igreja e muitos se sentem no direito de indicar-nos como devemos agir. A missão da Igreja é anunciar o Evangelho a todos os homens: o Evangelho da liberdade e da santidade dos filhos de Deus.
Vossa Eminência teria um conselho para dar aos Arautos do Evangelho?
É maravilhoso ser “Cristo”, ser católico. Cristo é o meu nome, católico, o meu sobrenome. Não nos deixemos intimidar por nada nem por ninguém. Que pessoa alguma nos roube esse nome. Precisamos seguir Aquele que diz: “Quem Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12). Não devemos ser católicos apenas nas horas boas, durante os louvores e elogios, ou
no momento de desfrutar dos benefícios sociais e educativos proporcionados pela Igreja, mas também nas horas em que Ela é perseguida e vilipendiada. Cabe a nós acompanhar Cristo na Paixão, pois sua ressurreição e sua glória não podem se separar do Gólgota, das chacotas do Sinédrio e do interrogatório de Pilatos. (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2019, n. 210, p. 19).