É nos cantos da História que se passa esta pequena lenda. Que lição tem para nos ensinar o triste jumentinho que queria ser um cavalo espetacular?
Há muito tempo, nas terras quentes da Judeia, encontramos uma jumentinho que não se conformava com sua sorte. Sonhara sempre em ser cavalo, carregar um poderoso senhor, uma elegante senhora, partir para uma batalha, escalar rochedos e ser um lindo apoio para os queridos humanos.
Mas o destino tinha lhe reservado para outra coisa: carregar sacos de trigo, puxar carroças e arados. Como sofria o pequeno jumentinho com seu desejo! Um dia até perguntara aos cavalos como tinham crescido tanto e ficado tão imponentes, com uma pelagem tão macia. O senhor cavalo lhe dissera que deveria comer o melhor feno da propriedade, que assim cresceria e ficaria tão importante como ele. O jumentinho comeu e nem gostou tanto assim, e ainda ficou de castigo por mais de uma semana pela desobediência.
Outro lhe dissera que possuía ferraduras mágicas, que transformavam em um imenso alazão aqueles que a usavam. Foi tentar o jumentinho ele própria trocar as suas, e daí nem veio senão confusão na propriedade.
Quando terminava seu trabalho, porém, o jumentinho se sentava sob uma imensa árvore que lhe fazia sombra e olhava para o horizonte, sem entender bem porque tinha tanta vontade de ser cavalo, se nascera jumento. Algo lhe dizia que entenderia só no futuro.
Certa vez, porém, um tribuno romano viera visitar seu senhor. E em que imponente cavalo ele viera! Tinha um pelo escuro todo escovado, em seu dorso carregava uma bonita sela de couro e sua crina reluzia ao vento, com seus dentes bem cuidados.
Maravilhado, o jumentinho perguntou à montaria de onde viera, já que estava tão bonito. O cavalo lhe contara que da cidade de Davi, Jerusalém, a cidade mais importante daquelas paragens. Lá, morava em um estábulo coberto de ouro e especiarias, com servos lhe dando comida de hora em hora. O pequeno jumentinho ficou maravilhado com a descrição mentirosa do cavalo. Não pensou duas vezes: assim que conseguiu se desvencilhar de sua corda, frouxamente apertada, rumou para Jerusalém. Lá, tornar-se-ia um lindo cavalo e carregaria um Rei, com certeza!
Mas o jumento não conhecia o exterior. Só vivera nas dependências de seu senhor, que, convenhamos, tratava-o muito bem. No perigoso e frio mundo que a cercava, porém, foi desprezado; muitos lhe expulsavam com gritos, brandinho seus chicotes; outros passavam por ele com indiferença, não ligavam para sua presença.
O jumentinho procurou abrigo da chuva, procurou um refúgio para sua fome, mas não achou nada. Não tinha coragem de voltar à seu dono, e não queria continuar mais sua caminhada. Lembrou do seu passado, de seus sonhos, e sua tristeza só aumentou. Desfalecido, o jumentinho ficou sob uma ramagem, num povoado desconhecido, sem saber o que fazer.
Mal sabia ele, porém, que a uma pequena distância dali, um homem dissera a seus discípulos: “Vão ao povoado que está adiante e, ao entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui”. (Lc 19, 30).
Quando deu por si, o jumentinho sentiu que punham algumas vestes sob ele. O que estavam fazendo? E seu olhar se desviou para alguém que parava ao seu lado. Que homem!, pensou o jumentinho. Seria um Rei? Não, um imperador! E seu coração bateu mais forte quando sentiu o suave montar do Rei dos Reis, dos Senhores dos Senhores. O jumentinho, que sempre quisera ser cavalo, que quisera carregar uma importante figura, era a divina montaria daquele que criara o Céu e a Terra.
Deus, às vezes, nos dá sonhos, nos dá aspirações que parecem tão distantes. Tudo com os outros parece mais fácil, parece mais ao alcance, mas conosco não! A impossibilidade fere nossos corações.
Mas Deus é o Senhor dos impossíveis. Foi o que o Santo Arcanjo anunciou: “Para Deus nada é impossível”. Saibamos guardar em nosso coração tal estória, nos lembrando que o Senhor tem desígnio para nós, e que precisamos confiar em sua Sabedoria.
O pobre do jumentinho, além disso, não tinha uma Maria Santíssima do seu lado. Ela é nossa mãe, e como tal, cuida de nós como só uma mãe sabe fazer. Recorramos a Ela para confortar nossa alma quando tudo parecer difícil e penoso. Afinal, como diz São Bernardo, “nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido a vossa proteção fosse desamparado”.