A Solenidade de Pentecostes, na qual celebramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, é uma das festividades mais importantes do calendário litúrgico. Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois, até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.
Naquele dia Nossa Senhora pôde ver como este amadurecimento se deu num instante, quando Se derramou o Espírito Santo em línguas de fogo, primeiro sobre Ela e, depois, d’Ela para todos os Apóstolos, discípulos e Santas Mulheres que ali se encontravam em grande número. A partir daí a Igreja passou a ter mais efusão de santidade, de dons e de graça, e foi instituída na prática, no que se refere à sua ação externa, potência e expansão. O Cenáculo é o começo do assombroso crescimento da Igreja, uma verdadeira explosão evangelizadora.
Assim comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira este acontecimento: “Apesar de tudo quanto Nosso Senhor até então fizera pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer – não quero fazer uma comparação exata – que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro, que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver e tudo passou a pegar fogo no mundo, a contagiar o mundo, até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.
É evidente que, já antes, os Apóstolos estavam na graça de Deus, como testemunha o episódio ocorrido no lava-pés, durante a Santa Ceia, quando São Pedro manifestou resistência e o Divino Mestre o admoestou: “‘Se Eu não os lavar, não terás parte comigo’. Exclamou então Simão Pedro: ‘Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça’. Disse-lhe Jesus: ‘Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros’” (Jo 13, 8-10). Entretanto, a presença divina tem graus; condição altíssima é o estado de graça, porém, é melhor ter o Espírito Santo na alma de uma maneira tão atuante que ela seja cumulada de sabedoria e de discernimento.
Tal foi o transbordamento de sobrenatural que se verificou em Pentecostes, como podemos comprovar pela diferença dos Apóstolos depois da vinda do Espírito Santo: eles se tornaram outros; decerto, até a fisionomia se transformou, começaram a se exprimir numa linguagem mais elevada, os gestos devem ter mudado… Por quê? Porque algo se havia operado no fundo de suas almas e, uma vez que a alma é a forma do corpo, é indubitável que esta repercussão se tenha feito sentir. Também alcançaram ciência e compreensão, como no passado não possuíam, conforme Nosso Senhor lhes anunciara:
“O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26). Receberam, ainda, os dons de profecia, de fazer milagres e o das línguas.
Não nos é dado penetrar integralmente em todo o significado e substância do acontecimento de Pentecostes, visto estar ele cheio de mistério. Na verdade, o que se teria passado com a Esposa de Cristo se não descesse o Paráclito sobre os Apóstolos? Não nos esqueçamos de que – digamo-lo com todo o respeito –, durante a Paixão de Nosso Senhor eles foram covardes, O abandonaram, desapareceram, fugiram (cf. Mt 26, 56; Mc 14, 50).
Após a Morte e Ressurreição de Jesus tornaram a reunir-se, desejosos de ver a implantação do reino de Israel sobre todos os povos (cf. At 1, 6), e não do Reino dos Céus que o Divino Mestre havia pregado! Esta é a natureza humana… incapaz, por si, de atos sobrenaturais. Quiçá a Providência tivesse permitido que fossem tão pusilânimes para mostrar qual a distância existente entre a nossa condição – da qual às vezes tanto nos orgulhamos – e a força do Espírito Santo.
Com efeito, muitas vezes julgamos que os Santos eram pessoas de vontade extraordinária, graças à qual venceram os obstáculos até conquistarem a coroa da justiça. Ora, nenhum homem, por mais hábil que seja, alcança a perfeição por seu esforço pessoal; só praticará as virtudes de forma estável se assistido pelo Espírito Santo. É Ele quem santifica a Igreja inteira, como se deu naquela manhã, quando o vento invadiu toda a casa onde estavam. Então, as línguas de fogo pousaram sobre a cabeça dos Doze e de seus companheiros, e de medrosos que eram, tornaram-se heróis!
Ao rezarmos a Oração do Dia, deparamo-nos com um pedido que goza de prodigiosa eficácia: “Ó Deus, que, pelo mistério da festa de hoje, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos fiéis as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho”.
Nós, católicos, temos o dom incomparável de pertencer ao Corpo Místico de Cristo. Ademais de também recebermos o Espírito Santo pelos Sacramentos do Batismo e do Crisma. Mas a Igreja implora que “agora” sejam derramadas copiosamente nos corações dos fiéis, por toda a terra, as graças concedidas naquela ocasião aos Apóstolos e discípulos e, a fortiori, a Nossa Senhora.
São Luís Grignion de Montfort quem prognostica uma era histórica na qual as almas quererão praticar a virtude de uma maneira extraordinária. De onde virá esta força? “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai”. É o que pedimos há dois mil anos e o que cantamos no Salmo Responsorial (cf. Sl 103, 30). Sim, tudo pode ser renovado, nós podemos ser completamente mudados como o foram os discípulos! Então participaremos, de forma singular, da descida do Espírito Santo sobre Maria Santíssima e os Apóstolos, que hoje celebramos. Devemos nos firmar na fé de que para Deus nada é impossível. Ele está reservando suas mais especiais graças para esta fase da História chamada por tantos Santos de últimos tempos.
“Acontecerá particularmente no fim do mundo e, logo, porque o Altíssimo com sua Santa Mãe devem formar grandes Santos. Estes ultrapassarão tanto em santidade a maioria dos outros Santos, quanto os cedros do Líbano suplantam os pequenos arbustos. […] Eles serão pequenos e pobres segundo o mundo […]; mas, pelo contrário, serão ricos em graça de Deus, que Maria lhes distribuirá abundantemente; grandes e eminentes em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura por seu zelo animoso, e tão fortemente apoiados pelo socorro divino que, com a humildade de seu calcanhar e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e farão triunfar Jesus Cristo”.
A humanidade tem uma necessidade vital dessa efusão do Divino Espírito Santo. E esta é a razão de nos reunirmos ardorosamente em torno do altar, para pedir à Mãe das mães, Àquela a cujo amor todos nós fomos entregues pelo Filho no alto da Cruz (cf. Jo 19, 26-27), que, enquanto Mãe do Corpo Místico, obtenha de seu Divino Esposo graças de maior fervor, de maior consolo, de maior piedade, de maior força para enfrentarmos todos os males, e que venha sem tardar o Paráclito e a face da terra seja renovada! (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2017, n. 186, pp. 8 à 15)
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