Na tarde de 30 de setembro de 1897, uma cena de fato inesquecível desdobrava-se na enfermaria do Carmelo de Lisieux. Cercada de toda a comunidade ajoelhada em torno de seu leito de dores, Santa Teresinha do Menino Jesus, fitando os olhos no crucifixo, pronunciava por fim suas últimas palavras nesta terra de exílio:
– Oh! eu O amo… Meu Deus… eu… Vos amo!
Logo depois, seus amortecidos olhos de agonizante recuperam vida e fixam-se num ponto abaixo da imagem de Nossa Senhora. Seu rosto então retoma a aparência juvenil de quando ela gozava de plena saúde. Parecendo com efeito estar em êxtase, ela fecha os olhos e expira. Um misterioso sorriso todavia aflora-lhe aos lábios e aumenta a formosura de sua fisionomia.
“Eu não morro, eu entro na Vida”, havia ela escrito poucos meses antes.
Talis vita finis ita. Isto é: “Cada um morre como viveu.”
Sua morte, aos 24 anos, foi por certo um reflexo de sua breve existência – uma vida de virtude heróica, de amor a Deus e ao próximo levado a limites extremos, e de sofrimentos suportados com uma radiante alegria e uma santa despretensão.
Por ordem das superioras, a humilde carmelita escreveu seus famosos Manuscritos Autobiográficos – “História de uma alma” – que tanto bem fizeram, fazem e farão ao longo dos séculos.
Santa Teresinha, quando noviça, em 1889 |
Santa Teresinha foi portanto escolhida por Deus para ensinar um caminho de santificação a ser trilhado pelas almas fracas – a “pequena via”, a via da Confiança por excelência.
Escreveu ela nos Manuscritos: “Sempre desejei ser uma santa (…) O bom Deus não inspira desejos irrealizáveis, eu posso, portanto, aspirar à santidade apesar de minha pequenez. Tornar-me grande, é impossível. Devo, pois, suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições, mas quero procurar um meio de ir ao Céu por uma pequena via, bem reta, bem curta (…)
A própria Santa Teresinha contudo explica, nos Manuscritos Autobiográficos, em que consiste a sua “pequena via” de santificação.
“Sempre desejei ser santa, mas – pobre de mim! – sempre constatei, ao me comparar com os santos, que entre eles e eu existe a mesma diferença que há entre uma montanha cujo cume se perde nos céus e o grão de areia obscuro pisado pelos transeuntes.”
Por outro lado, nessa época, fazia enorme sucesso o elevador, recém-inventado, que poupava às pessoas o esforço de subir escadas. Sor Teresinha sentiu um grande desejo de “encontrar um elevador para me elevar até Jesus, porque sou pequena demais para galgar a rude escada da perfeição”. E concluiu cheia de júbilo: “Ah! O elevador que deve me erguer até o Céu são vossos braços, ó Jesus!”
Fotografia tirada momentos depois da morte de Santa Teresinha, em 1º de outubro de 1897. Segundo a irmã Geneviève, a fotografia “reproduz fielmente o sorriso celeste de nossa irmã” |
Ao canonizá-la – mais ainda, ao proclamá-la Doutora da Igreja – a Santa Igreja oficializou sua “pequena via” como um autêntico caminho de santidade. (Revista Arautos do Evangelho, Out/2005, n. 46 e Set/2004, n. 33)
SAIBA MAIS Santa Teresinha do Menino Jesus e a pequena via |