Ontem, dado a festa dos Reis no dia 6 de janeiro, falamos dos três Reis Magos do evangelho. Se você ainda não leu sobre a lição que eles nos ensinam, clique aqui.
Hoje ouviremos a lenda do Quarto Rei Mago, aquele que chegou atrasado.
Rei Artaban
Junto aos três Grandes, Artaban, rei das regiões vizinhas, decide, vendo o compromisso de Gaspar, Melchior e Baltazar, ir junto adorar o pequeno que nasceria para livrar o mundo dos pecados.
Mas como não tinha ainda preparado tudo, pediu que lhe esperassem. Os Reis Magos não puderam, pois a estrela já seguia sua rota pelo Céu. Assim, deram-lhe algumas indicações por onde passariam, e pediram que ele lhes alcançasse quando tudo estivesse pronto.
Artaban reuniu camelos, uma boa comitiva e decidiu os presentes que daria ao Menino Deus: três lindas joias que havia em seu palácio, um diamante, um rubi e uma safira. Colocou-as num estojo e, feliz, partiu para se juntar aos outros.
Viagem e infortúnios do Quarto Rei Mago
O rei Artaban seguiu a rota dos outros Magos, mas teve especial dificuldade ao passar pelas florestas, não conseguindo recuperar seu atraso. Passando pela vila do local, perguntando onde estaria a comitiva dos três Reis Magos, topou com alguns soldados que vinham levando um esmolambado miserável.
“Por favor, tenha piedade de mim, minha esposa e filhos morrerão de fome!” Artaban se sentiu comovido. Perguntou do que se tratava, e contaram-lhe que o prisioneiro era um agricultor que tinha perdido a safra do ano pelo mau tempo, e que não conseguira pagar o imposto.
Sem duvidar, o quarto Rei Mago abriu seu estojo e entregou o lindo diamante para sanar a dívida do homem, que poderia se manter bem o ano e começar sua nova plantação. Este, debulhado em lágrimas, agradeceu de todo coração ao sábio e partiu contente. De coração leve, Artaban fez o mesmo.
Mais a frente, em outra cidade, Artaban presenciou mais uma cena que lhe tocou a alma: um homem fora surrado pelos ladrões, e abandonado na estrada, todo ferido e sem um tostão sequer. Este pedia compaixão dos passantes, que lhe ajudassem na horrível situação, mas ninguém lhe dava atenção.
Generoso, o Rei pediu mais uma vez que lhe trouxessem o seu estojo: dessa vez, lançou ao pobre o seu rubi que lhe agradeceu de todos os jeitos possíveis. Contente por ter feito o bem, Artaban pensava: “Ainda tenho a safira! Que lindo presente será ao Deus Nascido!”
O atraso lhe faz perder a chance de ver Jesus
Mas o atraso do caminho e seu interesse pelos aflitos resultou numa situação caótica: Artaban chegou a Belém dois anos depois do nascimento do Menino, bem na época que Herodes mandava matar os pequeninos de até dois anos.
Presenciando de canto aquela cena horrível, conseguiu avistar uma mulher que corria com seu filho nos braços, aos prantos, e soldados que vinham arrancar a vida do seu rebento. Artaban parou, desceu dos camelos e impediu a mortandade entregando aos militares a safira, que aceitaram o suborno e fingiram não notar o menino que chorava.
A aflição do Quarto Rei Mago e o encontro com o Filho de Deus
Sabendo que a Sagrada Família tinha ido ao Egito, tentou ir atrás deles. Ah, pobre Artaban! Sem presentes, já com a sua riqueza escoando das agruras da viagem, foi sendo abandonado pelos que o cercavam. Alguns decidiam voltar atrás, outros ficaram no meio do caminho.
Pobre foi Artaban peregrinar em busca de Jesus. Mas trinta anos se passaram sem o sucesso de sua missão, e Artaban já desistia quando, numa passagem por Jerusalém, ouvir dizer que o Messias pregava.
Foi até Ele, sôfrego de receber um olhar, ouvir sua doce voz. Quando chegou diante do Mestre, ficou extasiado com sua compostura, com sua dignidade. Sentiu uma dor profunda por não ter os presentes para oferecer Àquele Rei tão mais régio que ele.
Nessa hora, Jesus o olhou. E qual não foi sua surpresa ao ouvir dos Divinos lábios as palavras: “Tudo que fizestes a esses pequeninos, foi a mim que o fizestes”. Artaban entendeu. Chorando, caiu de joelhos. E, entre suas lágrimas, pode presenciar o que os outros Reis também viram: um sorriso de Deus.