Martelo contra machado
De São Bonifácio conhecemos o ilustre título de “apóstolo da Alemanha”, pois passou seus anos pelas terras germânicas levando o bom odor de Cristo àqueles que viviam perdidos na cegueira do paganismo.
Celebrando sua memória, conheceremos um importante fato que o fez ser muito considerado pelos aguerridos combatentes da Germânia: a queda do Carvalho do Trovão.
Mitologia nórdica
Até onde podemos ser benevolentes com suas tradições passadas? Afinal, as histórias e lendas de um povo são sua fisionomia transmitida de geração em geração, dando um motivo para que muitos permaneçam juntos e trabalhando pelo bem da comunidade.
Os bárbaros germânicos eram regidos pela mitologia que os precedeu, a nórdica, que os submetia a deuses, símbolos de seus valores: a força, a coragem, e, muitas vezes, a falta de senso e diplomacia em troca da resposta agressiva e brutal…
Não é à toa que Loki, considerado o deus da lábia, era ruim e o vilão de toda a mitologia.
Assim, percebemos algo: não só os arquétipos folclóricos representam a meta de um povo, mas seus defeitos também. E esta se perverte quando, em determinado momento, se perde de vista a tradição pela união e se consegue a união pelo medo.
Os germânicos, para acatar a vontade de seus deuses, agora simplesmente cruéis, desferiam golpes contra seus próprios irmãos. Tais eram os sacrifícios covardes de crianças perante o centro de sua crença, um altíssimo e longevo carvalho, que apelidavam de Carvalho do Trovão.
Ali, o massacre era permitido, e ai de quem se atrevesse a se levantar contra a vontade do deus Thor: provavelmente se juntaria à vítima inocente.
São Bonifácio e o poder de Deus
O santo patrono da Alemanha, certo dia, andava pelo bosque em busca de ovelhas que necessitassem de pastor, pois era grande o número de desamparados feridos pela “convenção” da mitologia.
Ouviu berros e choros de uma mãe aflita, e se dirigiu ao lugar, cercado de discípulos que gostavam de ouvir suas pregações.
Tendo chegado a uma clareira, viu uma cruel cena: uma criança amordaçada contra sua vontade, e um sacerdote ritualístico que empunhava um martelo para lhe quebrar o crânio. Muitos outros cercavam o carvalho enorme que servia de moldura para o sacrifício grotesco.
São Bonifácio impediu o golpe do martelo com sua voz, pedindo que parassem o horrendo espetáculo. Aproximou-se do tronco do Carvalho do Trovão e prenunciou sua queda.
Todos deram risadas, pois ele era magro e franzino: e não havia um machado forte o suficiente para deitar o carvalho por terra.
Além disso, segundo os bárbaros, aquele que tocasse no carvalho morreria fulminado instantaneamente por um raio, desferido pelo próprio Thor.
O Carvalho do Trovão tombou com todas as suas raízes!
São Bonifácio não se perturbou com aquelas sentenças, e disse:
Escutai, filhos do bosque! O sangue não fluirá esta noite, porque esta é a noite em que nasceu Cristo, o Filho do Altíssimo, o Salvador da humanidade.
Ele é mais justo que Baldur, maior que Odin, o sábio, mais gentil do que Frey, o bom.
Desde sua vinda, o sacrifício terminou. A escuridão, Thor, a quem chamaram em vão, é a morte. Desta forma, a partir de agora vós começareis a viver. Esta árvore sangrenta nunca mais escurecerá vossa terra.
Em nome de Deus, vou destruí-la.
E, com seu báculo de pastor, desferiu um golpe na base da árvore.
Como se uma força miraculosa o obedecesse, um vento forte começou a soprar contra as folhas do carvalho, e a natureza se prosternou diante do comando de um ministro de Deus: o Carvalho do Trovão tombou com todas as suas raízes, que se desprenderam da terra.
Todos os presentes ficaram muito assustados e consternados, pois São Bonifácio ainda vivia, mesmo tendo tocado no sagrado carvalho. Como ele tinha feito isso?
Se o sacerdote de Cristo fora capaz de tal prodígio, não será porque sua religião, de fato, era verdadeira?
Nasce a tradição da árvore de Natal
Tendo o carvalho feito um estrago em todo o bosque, os pagãos notaram que, miraculosamente, uma pequena árvore continuara de pé; e que, mesmo com carvalho havendo se partido na queda, ela continuara intacta sem sofrer dano com o impacto.
São Bonifácio, indicando-a, terminou sua pregação:
Esta pequena árvore, este pequeno filho do bosque, será vossa árvore santa nesta noite. Esta é a madeira da paz… é o sinal de uma vida sem fim, porque suas folhas são sempre verdes. Vede como as pontas estão dirigidas para o céu.
Chamá-la-eis a árvore do Menino Jesus; reuni-vos em torno dela, não no bosque selvagem, mas em vossos lares. Ali haverá refúgio e não haverá ações sangrentas, mas presentes amorosos e gestos de bondade.
Ali, nas palavras do apóstolo da Alemanha, nascia a tradição de enfeitar a árvore de Natal.