Não há algo tão lindo como a inocência!
São Paulo Miki nos mostra isso, junto a seus companheiros mártires.
Ela tem um brilho próprio, que torna o rosto do inocente como um farol de tranquilidade e paz, de arrojo e vigor, de pureza e admiração.
Mas, como uma lagarta em um casulo, em determinado momento da vida a inocência precisa se transformar, sob pena de tornar-se ingenuidade.
E quando se dá este instante que decide tudo na vida de um ser humano?
No sofrimento.
Vejamos como isso se deu na vida destes combatentes nipônicos.
Evangelização do Japão
Império japonês, 1564. Terra dos poderosos samurais, das ilhas esparsas formando um lindo conjunto e de um povo todo ele com tradições místicas e serenas.
Deus queria o Japão para si, e por isso suscitou São Francisco Xavier.
Sua evangelização deu frutos: o pequeno Paulo Miki nasceu em uma família cristã, e foi educado segundo os preceitos da lei.
Sem perder em nada sua cultura japonesa, adquiriu a louçania com que a Santa Igreja impregna os povos e as nações.
Logo novo, quis tornar-se sacerdote. Porém, como não havia Bispos em terras nipônicas, ele esperou pacientemente.
E esse hiato não foi em vão: Paulo Miki se tornou o primeiro sacerdote católico japonês!
Tal era seu ardor e convicção, que o próprio imperador se entusiasmava pela sua pregação, permitindo que ele continuasse nos púlpitos, disseminando a boa-nova de Cristo.
Início das perseguições
Todavia, em um momento, toda a paz ruiu...
O imperador do Japão rompeu toda e qualquer relação com a Espanha e decretou que todos os cristãos fossem embora da ilha.
Mas esse motivo originalmente político transformou-se em outra coisa: os católicos japoneses passaram a sofrer perseguições pela sua fé, como se já não fossem mais irmãos e pertencentes de seu povo.
Foram acuados para cidades ribeirinhas, e até lá iam os exércitos do imperador.
São Paulo Miki, como um padre jesuíta, foi o primeiro a ser preso.
Em seguida, mais dois companheiros de hábito, e, por fim, mais dezessete leigos o acompanharam.
O calvário de Nagasaki
Amanheceu um dia feio em 1597, aquele dia onde vinte e seis cruzes se ergueram condenando o bem.
Todos com os membros esticados, puxados por cordas que lhe cortavam os pulsos, mesmo os mais jovenzinhos.
Entre eles havia uma criança de onze anos, Luís, que era igualmente amordaçado.
A crueldade dos inimigos de Deus não conhece limites.
São Paulo Miki sabia disso, e sabia também que na hora do sofrimento muitos poderiam desencorajar.
Então, de seu alto púlpito, que um dia foi o de Cristo, bradou:
“Agora que cheguei a este momento de minha vida, nenhum de vós duvidará que eu queira esconder a verdade.
Declaro-vos, portanto, que não há outro caminho para a salvação fora daquele seguido pelos cristãos.
E como este caminho me ensina a perdoar os inimigos e os que me ofenderam, de todo o coração perdoo o Imperador e os responsáveis pela minha morte, e lhes peço que recebam o batismo cristão”.
São Paulo Miki era, de fato, um outro Cristo.
No momento mais extremo, pediu perdão pelos seus agressores.
Mas isso não tocou o coração dos carrascos, que puxaram suas espadas para, com cortes certeiros, ceifar as vidas dos amigos de Deus.
São Paulo Miki e seus companheiros sobem ao Céu
Que cena tocante, caro leitor.
Deus não quis o Japão, Ele quis seus queridos primeiro!
O Senhor os chamou por que queria ter em sua corte celeste representantes do povo nipônico, tão bem-amado, que foi dotado de tantas características impressionantes!
A inocência não foi vencida no calvário de Nagasaki.
Os maus pensaram que haviam triunfado, pois nenhuma voz ou suspiro se ouviu mais quando eles acabaram seu trabalho.
Entretanto, não ouviram porque eram surdos, surdos e cegos para a glória de Deus.
Pois, dos altos Céus, São Paulo Miki e seus companheiros mártires cantavam melodias perfeitas!